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21 de julho de 2025Uso Viciante de Telas, Não o Tempo Total, Ligado a Riscos de Suicídio em Jovens, Revela Estudo da JAMA
Nos últimos anos, pais, educadores e profissionais de saúde têm demonstrado uma crescente preocupação com o impacto do tempo de tela na saúde mental de crianças e adolescentes. Contudo, um novo e robusto estudo publicado na prestigiada revista científica
JAMA desloca o foco do debate: o problema pode não ser quantas horas os jovens passam em frente às telas, mas como eles usam essa tecnologia.
A pesquisa, intitulada “Trajetórias de Uso Viciante de Telas e Comportamentos Suicidas, Ideação Suicida e Saúde Mental em Jovens dos EUA”, acompanhou mais de 4.000 crianças por quatro anos e chegou a uma conclusão crucial: são os padrões de
uso viciante — e não o tempo total de tela — que estão fortemente associados a piores resultados de saúde mental, incluindo comportamentos e ideação suicida.
O Estudo em Detalhes
Pesquisadores do
Adolescent Brain Cognitive Development (ABCD) Study, um dos maiores estudos de longo prazo sobre o desenvolvimento de adolescentes nos EUA, analisaram dados de 4.285 jovens. A análise focou em identificar diferentes “trajetórias” de uso viciante de redes sociais, celulares e videogames desde os 11 anos de idade.
Os resultados foram medidos no quarto ano de acompanhamento e incluíram:
- Comportamentos e ideação suicida, avaliados por meio de questionários detalhados (KSADS) respondidos tanto pelos jovens quanto por seus pais.
- Sintomas de internalização (como ansiedade e depressão) e externalização (como agressividade), medidos pela Lista de Verificação do Comportamento da Criança (CBCL).
Padrões de Uso: Mais Importante que as Horas Contadas
O estudo identificou diferentes grupos de jovens com base em seus padrões de uso ao longo do tempo:
- Redes Sociais: Três trajetórias foram observadas: uma de baixo uso viciante (59,1% dos jovens), uma crescente (31,3%) e uma de pico elevado (9,6%). Notavelmente, a trajetória “crescente” começou com níveis baixos, mas aumentou drasticamente, alcançando o grupo de “pico elevado” por volta dos 14 anos.
- Celulares: Também foram identificadas três trajetórias: baixa (26,2%), crescente (24,6%) e alta (49,2%). Quase metade dos jovens já se encontrava em um padrão de alto uso viciante.
- Videogames: Duas trajetórias distintas emergiram: baixa (58,9%) e alta (41,1%). Diferente das outras plataformas, esses padrões se mostraram mais estáveis ao longo do tempo.
As Conexões com a Saúde Mental
Ao cruzar esses padrões com os dados de saúde mental, os pesquisadores encontraram associações alarmantes, mesmo após ajustar para fatores como demografia e condições clínicas pré-existentes:
- Redes Sociais: Jovens nas trajetórias “crescente” e de “pico elevado” apresentaram um risco duas vezes maior de comportamentos suicidas em comparação com o grupo de baixo uso (risco relativo de 2,14 e 2,39, respectivamente). Eles também mostraram maior risco de ideação suicida e mais sintomas de ansiedade, depressão e agressividade.
- Celulares: A trajetória de “alto” uso viciante foi associada a um risco 2,17 vezes maior de comportamentos suicidas.
- Videogames: O grupo de “alto” uso viciante teve um risco 1,54 vezes maior de comportamentos suicidas e também apresentou níveis significativamente mais altos de sintomas de internalização (ansiedade, depressão).
O achado mais surpreendente foi que
o tempo total de tela no início do estudo não teve associação com nenhum desses resultados negativos quando analisado de forma independente.
O Que Isso Significa na Prática?
Este estudo sugere que o foco exclusivo em limitar as horas de tela pode ser insuficiente. É mais importante observar os
sinais de um relacionamento viciante com a tecnologia. De acordo com os questionários usados na pesquisa, alguns desses sinais incluem:
- Sentir a necessidade de usar cada vez mais a plataforma.
- Ficar angustiado ou ansioso com a simples ideia de ficar sem o celular.
- Usar a tecnologia como uma forma de escapar de problemas pessoais.
- Ter dificuldade em se desligar, mesmo quando se tenta.
Conclusão
A pesquisa reforça que o comportamento aditivo, caracterizado pela compulsão e pela perda de controle, é um fator de risco muito mais saliente para a saúde mental dos jovens do que simplesmente o tempo de uso. Para pais e cuidadores, isso significa que, além de gerenciar o tempo, é fundamental promover uma relação saudável e consciente com a tecnologia, observando atentamente os sinais de que o uso está se tornando um problema.
Fonte Original:
Xiao, Y., Meng, Y., Brown, T. T., Keyes, K. M., & Mann, J. J. (2025). Addictive Screen Use Trajectories and Suicidal Behaviors, Suicidal Ideation, and Mental Health in US Youths. JAMA. Publicado online em 18 de junho de 2025. doi:10.1001/jama.2025.7829.